À medida que a inteligência artificial (IA) avança e molda nossas vidas, surge uma questão urgente: qual é o impacto ambiental da IA?
Embora a inteligência artificial ofereça promessas de eficiência, inovação e transformação digital, também traz custos ambientais consideráveis.
O uso de energia, consumo de água, emissões de carbono, fabricação de dispositivos e descarte resultam em uma marca ambiental complexa e significativa.
Esse vídeo do jornal Correio do Povo explica de forma clara os impactos ecológicos da IA e propõe caminhos sustentáveis para o futuro dessa tecnologia.
1. A explosão energética da IA e dos datacenters
Primeiramente, os datacenters de IA são motores energéticos massivos. Segundo o MIT, clusters de treinamento de IA podem consumir de sete a oito vezes mais energia do que os workloads tradicionais, impulsionando os datacenters na América do Norte a dobrar seu consumo de energia em menos de um ano, chegando a 5.341 MW em 2023.
Além disso, um artigo da Wired revelou que a energia consumida pela IA já representa cerca de 20 % da demanda global de energia dos datacenters, podendo dobrar até o final do ano.
Portanto, mesmo com o progresso da revolução tecnológica, sua dimensão energética demanda uma consideração cada vez maior.
Ademais, o aumento da IA fez com que gigantes como Amazon, Microsoft, Alphabet e Meta registrassem um crescimento de 150 % nas emissões indiretas de carbono entre 2020 e 2023, segundo relatório da Reuters.
Esse valor representa até 102 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano, e a previsão é de que cresça ainda mais com o uso acelerado da IA.
Portanto, a infraestrutura que suporta a inteligência artificial exerce uma pressão considerável sobre as fontes de energia e as metas globais de emissões.
2. Água: um recurso cada vez mais disputado
Além da eletricidade, os datacenters consomem grandes volumes de água para resfriamento. Um estudo do MIT indica que, para cada kWh consumido, são necessários cerca de 2 litros de água, com enorme impacto em áreas vulneráveis.
No que diz respeito à coleta de dados nos Estados Unidos, os centros de dados utilizam cerca de 7.100 litros de água a cada MWh gerado, com grandes empresas como o Google consumindo 12,7 bilhões de litros só em 2021 nos EUA segundo o Planet Detroit.
Portanto, em regiões que enfrentam escassez hídrica, essa carga pode comprometer comunidades próximas.
3. Materiais e lixo eletrônico
Em paralelo, a produção de hardware para IA exige vastas quantidades de minerais raros e recursos naturais. Conforme relata a ONU, a fabricação de um computador de 2 kg demanda cerca de 800 kg de matérias-primas, com impacto negativo devido à mineração e transporte desses materiais.
Adicionalmente, espera-se um aumento entre 1,2 e 5 milhões de toneladas em lixo eletrônico anualmente até 2030, de acordo com monitoramento global, um dado preocupante para quem está atento à sustentabilidade.
Assim, o descarte de dispositivos e servidores de inteligência artificial tem gerado resíduos tóxicos e partes que são complicadas de reciclar.
4. Emissões de carbono e mudanças climáticas
A emissão de gases de efeito estufa gerada pela IA é realmente expressiva devido, em grande parte, ao consumo energético massivo dos datacenters que processam modelos de IA.
Um estudo da International Telecommunication Union (ITU), organização da ONU, mostrou que as emissões de carbono indiretas provenientes de grandes corporações voltadas para a inteligência artificial (como Amazon, Microsoft, Alphabet e Meta) cresceram 150% entre 2020 e 2023, atingindo até 102,6 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano segundo a Routers.
Esse aumento acentuado evidencia a urgência de iniciativas que controlem a pegada climática da IA e promovam práticas sustentáveis nesse setor.
Além disso, segundo a plataforma Greenly.earth, a crescente demanda por datacenters impulsionada pela inteligência artificial pode levar a um consumo energético que rivaliza com o de setores inteiros da economia.
A empresa alerta que, se não houver controle, a eletricidade necessária para alimentar modelos de IA poderá alcançar níveis alarmantes nas próximas décadas, gerando pressões significativas sobre redes de energia e dificultando metas globais de descarbonização.
Isso evidencia a necessidade urgente de soluções sustentáveis — pois um mundo moldado pela IA também precisa considerar seriamente o impacto climático dessa tecnologia.
5. O custo escondido da inferência
Nem apenas o treinamento consome enormes quantidades de energia — cada consulta a ferramentas como ChatGPT pode consumir cinco vezes mais energia que uma busca tradicional, segundo o MIT.
Sendo assim, a popularização de assistentes virtuais implica também um crescimento significativo de consumo energético por usuário.
6. Desafios para fontes renováveis e a infraestrutura elétrica
Embora muitas empresas apontem metas de neutralidade de carbono, tais como certificados RECs ou contratos com usinas renováveis, isso nem sempre representa redução real de emissões, alerta o FT.
Além disso, segundo revisão da Le Monde, a demanda energética de datacenters pode crescer 4 % a 6 % entre 2022 e 2026, gerando sobrecarga na rede elétrica.
Assim, planos de neutralidade verde devem ser acompanhados por transparência e investimento em infraestrutura robusta.
7. Perspectiva global: iniciativas e controvérsias
Na Grã-Bretanha, um projeto de datacenter de IA em Elsham (Lincolnshire) pode emitir até 857 mil toneladas de CO₂ por ano — cinco vezes mais que o aeroporto de Birmingham, segundo The Guardian.
Igualmente, a Meta estabeleceu um acordo para reativar uma usina nuclear com o objetivo de fornecer energia para seus futuros centros de dados, segundo informações da AP News.
Esta tendência se repete em empresas como Google, Amazon e Microsoft, evidenciando que a energia nuclear pode ser uma das poucas opções capazes de suprir a demanda sem aumento significativo de emissões de carbono.
8. Iniciativas de sustentabilidade e otimização
Apesar dos impactos, já existem iniciativas promissoras:
- A Digital Realty está investindo em resfriamento com líquidos, energias renováveis e inteligência artificial para reduzir em 60 % as emissões por metro quadrado até 2030 segundo a Business Insider.
- O MIT aponta que algoritmos de IA podem diminuir o consumo energético de datacenters entre 30 % e 40 %, como provado nos sistemas do DeepMind.
- A Yale Environment 360 destaca que pipelines de IA devem considerar energia, água e ciclo de vida de hardware para criar modelos sustentáveis.
Assim, é possível — e urgente — combinar IA com sustentabilidade real.
9. O futuro: tecnologia verde e regulação
O Fórum Econômico Mundial e a UNEP avisam que, sem ações, é possível que de 1,3 a 1,7 gigatoneladas de CO₂ sejam liberadas entre 2025 e 2030 — uma quantidade equivalente às emissões de uma nação do porte da Itália segundo a Axios.
No entanto, também veem a IA como aliada: ela pode otimizar redes elétricas, reduzir consumo de ESG, e auxiliar na transição energética.
10. Conclusão: é possível equilibrar inovação e natureza?
A IA já é parte essencial do nosso cotidiano e seu impacto ambiental não pode ser ignorado. Portanto, empresas, governos e pesquisadores precisam adotar:
- Medidas de transparência nas emissões;
- Fontes renováveis reais e não apenas CRUs;
- Otimizações via IA que reduzam seu próprio consumo;
- Reciclagem intensiva de e-waste;
- Regulação pública para datacenters em áreas sensíveis.
Por fim, vale lembrar: cada consulta ao ChatGPT, cada imagem gerada ou análise feita, representa energia e recursos — e, portanto, exige responsabilidade.
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